30 Anos de X-Men do Mega Drive
X-Men do Mega Drive quebrava a 4º parede antes mesmo de eu saber o que era isso. |
Se você tem entre 35 e 40 anos, e teve ou conheceu o Mega Drive, provavelmente jogou o primeiro jogo de X-MEN para o “meguinha” lá por volta de 1993. Um game com dificuldade absurda para época e que muitos desistiram apenas na primeira fase.
Nos anos 90, X-MEN era literalmente “a coisa” do momento. A saga dos mutantes estava por toda parte: quadrinhos, desenho animado, chicletes e etc. Vingadores? Esqueça! Vingadores não tinha um décimo da popularidade de Wolverine, Ciclope e companhia.
É curioso como muita gente nem lembra direito do primeiro jogo do X-MEN e grande parte disso se deve a sua dificuldade. Quando “X-Men 2: Clone Wars” saiu em 1995, era um jogo com uma progressão inicial bem mais fácil, porém, igualmente difícil.
Se você chegou aqui e espera um review detalhado do game, caia fora. Aqui quero guardar apenas minhas memórias com relação ao game e como eu zerei ele 30 anos depois.
X-MEN e feira
Minha conexão com o primeiro X-Men de Mega Drive foi através, é claro, de uma locadora de videogame. Sim, aquelas locadoras de tempo.
Como toda criança pobre dos anos 90, ter um videogame era um sonho distante, que podia ser apaziguado com uma meia-horinha em uma locadora do centro da cidade.
Meu pai ia à feira todo sábado e eu ia com ele para “ajudar” (com muitas aspas mesmo), pois o que acontecia era ele me dar dinheiro para ir para a locadora, ficar lá até ele fazer as compras da semana.
Chegávamos por volta das 7 horas de manhã e como a locadora só abria às oito, eu sentava na calçada e ficava imaginando as novas aventuras que iria viver naquele dia.
Sim, uma época em que você tinha que esperar a semana inteira para jogar algumas horas de videogame. Parece até uma metáfora para a vida adulta. Porém, naquela época eu tinha muito mais energia.
Na época, com então 12 anos, eu já conhecia videogame e já estava bastante familiarizado com Mega Drive. Já conhecia Fatal Fury 1 e Street of Rage 2.
Até então, a ideia de que videogame era uma transmídia que poderia se conectar com outras como desenhos animados não havia sido clicado para mim.
Então, em um belo sábado, X-MEN estava disponível para jogar.
Nem preciso dizer que o impacto para uma criança ao ver o mesmo desenho que assistia, transmutado em forma de jogo era algo impressionante.
As cores, os personagens e a premissa de derrotar Magneto, estava tudo lá.
Sei que para qualquer criança em grandes centros ou nos EUA deve ter sido algo comum, e já vivido, como no caso de Tartarugas Ninjas no NES. Mas para um pobre menino, no interior do Piauí?
Vencendo o medo de gastar dinheiro a toa
Da capa, ao label do cartucho até a tela inicial. Tudo em X-MEN era quase perfeito. Um game muito bonito em todos os aspectos… menos na música.
O game simplesmente te joga em um ambiente simulado dentro da base dos X-MEN sem explicar muita coisa.
Levei alguns minutos para entender que era preciso entrar em uma pequena entrada no lado esquerdo do cenário. Lembre-se, naquele tempo ninguém sabia nada de inglês e não se pegava o manual do jogo para jogar, afinal, o dono da locadora não deixava.
Só a partir daí que a aventura realmente começa.
O game em si é uma aventura com rolamento lateral e cenário um pouco bastos para quem estava acostumado mais diretos na locadora. X-MEN além da “pancadaria” clássica de bater em inimigos, convidava o jogador a explorar o cenário para coletar mais power-ups
Esse game é bem “econômico” no quesito power-ups e consumíveis. Com isso, é preciso explorar muito para adquirir os ajudantes que são muito valiosos durante sua jornada.
Passei semanas apenas para descobrir como chegar ao final da primeira fase. Há alavancas que precisam ser pressionadas e a ideia de que seria só um jogo de “bater em vilões” rapidamente se esvaiu. Sim, semanas, lembre-se naquele tempo, eu jogava no máximo uma hora por semana.
E esse era o grande terror de qualquer pessoa que jogava em locadora.
Jogar, jogar e não conseguir ir a lugar nenhum no game. E em um jogo arcade isso era ainda mais apavorante. Isso era sinônimo de jogar dinheiro fora.
Por isso, pelo menos para quem jogava em locadora, X-MEN do Mega Drive era um jogo para se evitar. Assim como qualquer JRPG naquela época (Sim, JRPG pode ter sido um sucesso em sua casa, mas em locadoras de videogame, você levava um “cascudo” na hora).
Ainda mais em um jogo ultra difícil como X-MEN, pois não sei se já falei, mas nesse jogo não tem vida. Se você perder um personagem, você perde ele para sempre. Contudo, no meio do jogo é possível recuperar os personagens uma vez.
Descobrindo o final por acaso, o jogo te manda resetar
Hoje em dia é até irritante ser fã de games e usar redes sociais. Você pode chamar de chatice, mas as melhores experiências, tanto em games como em filmes foram quando eu nada sabia nada sobre os mesmos.
Descobrir como se passava da primeira fase de X-MEN me tornou “O cara” na locadora. Muita gente que escolhia jogar “de dois”, ou seja, com um segundo player (o que eu considero um erro para esse jogo) me chamavam para passar de alguma parte.
Naquela época a gente achava o máximo e achava que tinha ido muito longe. Contudo, conforme eu mais jogava, mais eu descobria que nada sabia sobre esse game curioso.
São muitos macetinhos e segredinhos que são até raros de se encontrar na internet, dada a raridade das pessoas que celebram esse game.
Chegar ao final desse game foi uma completa surpresa pra mim, pois eu sempre ficava preso na fase do Mojo sem saber o que fazer.
O game não dá uma dicazinha de que é preciso pressionar o botão reset após derrotar o vírus do Mojo.Eu sempre chegava nessa parte e desligava pois não sabia o que fazer. Foi quando outra pessoa na locadora apertou o "reset" do Mega Drive ao invés de desligar e ligar o videogame (como qualquer criança faria na época).
Pense numa bela surpresa. Ao fazer isso, X-Men revela sua fase final.
"O que aconteceu? A fita tava com defeito e você consertou?"
Imagina uma criança que nem sabia inglês descobrindo um dos segredos do mundo dos games? Magia Pura!
O que de fato aconteceu: na história do jogo é como se o cartucho, e o computador dos X-Men estivessem infectados por um vírus e ao derrotar o Mojo, você derrota o vírus dele.
O professor Xavier explica antes da fase começar que é preciso "resetar o computador", mas que criança da época, que nem inglês sabia, iria imaginar que ele estava falando do videogame?
A bem da verdade, é que depois que você descobri tudo, X-Men é mais um daqueles games que se revela curto, e que é possível terminar em menos de uma hora. A questão é saber todos os segredos, inclusive esse último que quebra a 4º parede dos games, antes mesmo de Metal Gear Solid (chupa essa Kojima).
E essa é minha história com X-Men de Mega Drive, um game que tenho uma grande memória afetiva especialmente pela forma como eu o conheci, e de como eu falava dele enquanto voltava da feira com o meu pai.
Esse dia em que eu finalmente consegui ver a última fase foi mágico.
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